Crise do MDL e bloqueio russo marcam primeira semana de negociações climáticas
07/06/2013 - Autor: Fabiano Ávila - Fonte: Instituto CarbonoBrasil
“Nós já provamos que podemos funcionar em larga escala, o que é uma grande conquista. Mas estamos vendo uma pequena demanda pelas RCEs [os créditos de carbono do MDL], o que resulta em preços baixos e pouco incentivo para os desenvolvedores. É muito frustante perceber que muitos empreendedores de projetos estão deixando o mercado por não terem condições de trabalhar”, afirmou Peer Stiansen.
Atualmente, as RCEs são comercializadas em apenas €0,40/t no mercado europeu, praticamente valendo somente 10% dos €3,99/t de junho de 2012.
O principal fator responsável por toda essa desvalorização, segundo Stiansen, é a falta de ambição nas metas de redução de emissão de gases do efeito estufa. Na última COP, em Doha, foi decidido a extensão do Protocolo de Quioto, mas sem maiores compromissos. Assim, muitos países, em especial os europeus, já estão muito perto de atingir suas metas de corte propostas para 2020, principalmente devido à crise econômica e à consequente queda da produção industrial.
“O que nós do Comitê Executivo podemos fazer é dar apoio aos desenvolvedores, mas quem realmente tem que agir são os países. Tenho que destacar novamente, a crise no MDL não é um problema de oferta e sim de demanda”, declarou.
Stiansen defende que as nações adotem metas mais ambiciosas e em paralelo coloquem em prática medidas de curto prazo, como retirar o excesso de créditos do mercado.
“Esperamos que esta seja apenas uma crise temporária, e que os governos ajudem rapidamente a aumentar a demanda”, concluiu.
Obstáculo Moscou
Quem também se destacou, negativamente, em Bonn até agora foram os delegados da Rússia, Bielorrússia e Ucrânia. Ao insistir em alterar compromissos assumidos anteriormente, esses países estão prejudicando o avanço das negociações.
Para entender por que os governos dessas nações acham necessário “corrigir equívocos passados”, é preciso lembrar como acabou a COP18 no Catar em 2012.
Os negociadores em Doha já haviam ultrapassado em muito o prazo para o final da conferência, assim boa parte do texto final foi aprovado sem que todas as partes analisassem de forma completa seu conteúdo.
Por causa disso, as ex-colônias soviéticas teriam sido pegas de surpresa ao descobrirem que não poderão ultrapassar até 2020 a quantidade de emissões de gases do efeito estufa registrada entre 2008 e 2010. Esses países, no entanto, alegam que esse período abrange justamente a época mais grave da recente crise econômica, quando as emissões estavam muito abaixo do normal e que, por isso, sofrerão pesadas consequências se respeitarem o acordo.
Ainda durante os últimos minutos da COP 18, o principal negociador russo, Oleg Shamanov, protestou, inclusive batendo seu sapato sobre a mesa de negociações, mas foi em vão.
Agora em Bonn, Shamanov está bloqueando as negociações enquanto toda essa questão não for resolvida.
“É de fundamental importância acabar com essa polêmica para que o acordo de 2015 possa ser adotado de maneira confiável e sem truculência. A menos que coloquemos a casa em ordem, não poderemos garantir negociações produtivas”, explicou.
“No passado, vimos muitos exemplos negativos nos quais os procedimentos não foram seguidos, o ápice disso foi em Doha. Foi totalmente inaceitável”, acrescentou.
Ainda não está claro como será solucionada essa questão, outros delegados apontam que a própria Rússia violou procedimentos no passado, tendo inclusive saído do Protocolo de Quioto. A única certeza é que a primeira semana de negociações em Bonn foi muito mais lenta do que deveria.
Crédito Imagem: IISD
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